sábado, 12 de outubro de 2019

A Dona Mel

Conhecemo-nos em 2005, em uma feira de adoção no estacionamento de uma rede de supermercados. Já era fim de tarde e ela era a única gatinha que não havia sido adotada. A responsável pela feira disse-me que aquela gatinha de uns três meses de vida era muito tímida e quietinha, sempre encolhidinha no canto da gaiola, e por isso as pessoas preferiram adotar os outros gatinhos que eram mais "brincalhões" e "alegres" e assim ela acabou "sobrando".

Quando me aproximei da gaiola e os nossos olhos cruzaram-se, algo que não sei explicar aconteceu, mas eu fui capaz de ler a alma dela e ela a minha. Eu fui ao mercado sem saber que estava havendo uma feira de adoção e eu não tinha nenhuma intenção de ter um pet naquele momento, portanto tentei desvencilhar-me daquele olhar e seguir o meu caminho, mas não consegui. Em poucos minutos já havia preenchido toda a papelada da adoção, comprado ração e as quinquilharias necessárias e estava indo para casa com a gatinha "acanhada e triste" que eu já chamava de Mel.

Poucos dias na casa nova, e já totalmente integrada à família, descobri o motivo da sua "timidez" e "quietude". Ela amanheceu muito mal e corri com ela para o veterinário, e após uma serie de exames, descobrimos que ela tinha uma doença grave e sem cura (causada por um vírus) e estava com uma pneumonia em estágio avançado (causada pela imunodeficiência). O veterinário foi muito ético e honesto comigo e deixou bem claro o quão grave era a situação e as pouquíssimas chances de sobreviver que Mel tinha, porém me deu a certeza de que faria tudo o que estava ao seu alcance para salvá-la. Internamos a Mel e a luta pela vida começou.

Eu ia todos os dias visitá-la, e todo o tempo que passávamos juntos ela ficava com sua patinha sobre a minha mão e miava conversando comigo. A hora de ir embora era sempre muito dolorida para ambos. Ela me olhava com aqueles olhos tristes e os meus se enchiam de lágrimas. Podia ser a nossa última vez juntos, e essa agonia se repetiu por incontáveis dias.

Com a graça de Deus e a competência e dedicação do veterinário, pouco a pouco a Mel foi se recuperando e, após longos dias, teve alta (não estava curada, pois não há cura para essa doença, porém não ficou com nenhuma sequela grave). O doutor me disse que aquilo era um milagre e que ele estava impressionado com a conexão que havia entre eu e a Mel e que ele, em tantos anos de profissão, nunca havia visto uma ligação tão grande de um gato com um humano.

Hoje a dona Mel completa 14 anos (aproximadamente 72 anos humanos). Já é uma senhora, mas apesar da idade continua muito ativa e sóbria (um pouco ranzinza, mas quem me dera chegar nessa idade com essa disposição), e durante todos esses anos só teve uma recaída por causa da doença, mas nada grave. Somos grandes amigos e companheiros (a ponto dela sentir ciúmes de outras pessoas ou animais que se aproximam de mim) e aquele dia no estacionamento do supermercado mudou para sempre a vida dela - e a minha!

Dony Augusto

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